sábado, 6 de junho de 2009

APRESENTAÇÃO

Esse blog contém alguns textos sobre Botafogo anteriores à minha efetivação como colunista do Canal Botafogo. Para não ficarem perdidos, postei os três aqui.

Aproveitem e critiquem, positiva ou negativamente.

Saudações Alvinegras.

Anteprograma de Gestão

ESSE ANTEPROGRAMA FOI ESCRITO POR MIM, À PEDIDO DO MCR, E SERIA O TEXTO BASE PARA O PROGRAMA DE GESTÃO DA CANDIDATURA DE MARCOS PORTELLA À PRESIDÊNCIA DO CLUBE NO TRIÊNIO 2009-11. INFELIZMENTE, POR MOTIVOS ESCUSOS, A CHAPA FOI IMPEDIDA DE CONCORRER. ESSE ANTEPROGRAMA NUNCA CHEGOU A SER VOTADO EM REUNIÃO DO MCR, MOTIVO PELO QUAL ESSAS IDÉIAS SÃO EXCLUSIVAMENTE MINHAS, NÃO PODENDO SER IMPUTADAS AO MCR OU AO PRÉ-CANDIDATO MARCOS PORTELLA.


ANTEPROGRAMA DE GESTÃO MOVIMENTO CARLITO ROCHA 2009-2011.

A Chapa Movimento Carlito Rocha tem origem no Movimento Carlito Rocha, atuando em oposição às temerárias gestões Rolim e Mauro Ney, que levaram o Botafogo de Futebol e Regatas à insolvência e ao rebaixamento à segunda divisão do futebol brasileiro. Como base de sustentação da gestão Bebeto de Freitas, resgatou a dignidade do Botafogo de Futebol e Regatas, trouxe o clube de volta à segunda divisão, conquistou o Estadual de 2006, terminando um jejum de oito anos, e tornou o maior sonho alvinegro em realidade: adquiriu a concessão do nosso próprio estádio: o Estádio Olímpico!

Para que a luta não seja em vão, e o clube avance rumo a um novo patamar de profissionalismo e prosperidade, sem a volta daqueles que depredaram e saquearam o Botafogo de Futebol e Regatas, o voto da consciência, da seriedade, da competência e da honestidade é a chapa Movimento Carlito Rocha.

As principais propostas da Chapa Movimento Carlito Rocha, baseado na continuidade do bom trabalho e reforma dos equívocos são:

1 – Futebol Profissional.

Avançaremos com o projeto de separação do Futebol Profissional do clube social Botafogo através das seguintes medidas:

- Priorizar o investimento do futebol nas categorias de base, finalizando o Centro de Treinamento de Marechal Hermes para as categorias de base, o “Canil Alvinegro”, com o que há de mais moderno em tecnologia esportiva.
- Mudança do futebol profissional de General Severiano para o novo CT a ser construído no Caio Martins, nos moldes do CT das divisões de base.
- Postura agressiva nas contratações para o futebol profissional, tendo no plantel jogadores que honrem as tradições vitoriosas do Botafogo de Futebol e Regatas.
- Utilização da Cia. Botafogo para arrecadar recursos para o futebol profissional.

2 – Futebol de Base.

O futebol de base terá como referência o CT de Marechal Hermes, o “Canil Alvinegro”, que terá as seguintes instalações:

- Diversos campos de futebol, nos mais variados tamanhos, para trabalhos específicos, nos moldes do CT de Cotia do São Paulo Futebol Clube.
- Construção de instalações de apoio ao atleta, como piscina, alojamentos e academia.
- Implementação de uma rede de informática contendo programas específicos para o futebol, como jogos virtuais, modelos de técnicas, esquemas táticos, simulações de jogada, entre outros.
- Criação do departamento de apoio social da base, com serviços de medicina, psicologia, pedagogia, nutrição e odontologia;
- Promoção de palestras com especialistas em futebol (técnicos, atletas, pesquisadores, etc.) para os jogadores das categorias de base;
- Programa de integração entre as categorias inferiores e profissional;
- Mudança do paradigma das divisões de base, priorizando os meninos de maior talento em detrimento dos de maior porte físico.
- Criação de uma ampla rede de escolinhas, visando angariar recursos e garimpar talentos, em especial no Estado do Rio de Janeiro e em cidades, fora do Estado do Rio, em que notoriamente há grande quantidade de torcedores do Botafogo, tais como Brasília, Juiz de Fora, Vitória, João Pessoa e Cuiabá.

3 – Clube Social.

O processo de democratização do clube, que começou com a histórica aprovação do novo Estatuto, e cujo objetivo final é a expansão do quadro social do clube para 20.000 sócios, continuará com ampliação dos serviços prestados aos sócios, nos seguintes termos:
- Transformação do atual campo de General Severiano em diversas quadras poliesportivas, de tênis e de futebol society, acabando com o problema crônico de espaço do clube.
- Transformação das instalações do atual Centro de Treinamento João Saldanha em espaço social, com (I) abertura para os sócios da academia que hoje é utilizada pelos profissionais e (II) utilização dos alojamentos como salas administrativas.
- Redução dos preços de aluguéis de quadras poliesportivas na sede para os sócios e cessão gratuita das quadras poliesportivas para sócios quando as mesmas não estiverem alugadas.
- Instalação de um pub alvinegro do Casarão Colonial, com telão, bebidas e comidas a preços acessíveis para sócios e não sócios, abertura de pista de dança no subsolo, resgatando a tradição dos bailes no Casarão Colonial, e servindo o local de referência para encontro de todos os alvinegros, sócios e não-sócios. Os lucros do Pub terão como única destinação o próprio clube social.
- Concessão de meia-entrada nos jogos para todos os sócios que estiverem em dia.

4 – Engenhão.

O Engenhão é potencialmente uma das maiores fontes de renda do clube, e para que essa potencialidade se torne uma realidade, propomos as seguintes medidas:

- Reorganização das arquibancadas do Engenhão, com localização das torcidas organizadas, preferencialmente, nos setores inferiores do Estádio, e com localização das famílias, preferencialmente, nos setores superiores.
- Reorganização dos preços dos ingressos do Engenhão, com os setores inferiores mais baratos e superiores mais caros, nos moldes do Maracanã.
- Reorganização do programa Sócio-Torcedor, com venda de planos fixos para cada setor, sendo vedada a mudança do torcedor de ala sem sua autorização.
- Venda do nome do Estádio e das Alas.
- Simplificação do acesso ao Setor Vip, com venda de ingressos na bilheteria.
- Exploração do potencial de atletismo do Estádio, com parceria com o COB e utilização dos recursos da Lei Agnelo-Piva e Lei de Incentivo ao Esporte.
- Construção de um complexo comercial voltado para a população do entorno do Estádio Olímpico.
- Construção do Museu do Botafogo no Engenhão.
- Melhoria dos serviços de comida e bebida (catering), com variedade de produtos comestíveis e de maior qualidade.
- Barateamento dos serviços de comida e bebida (catering).
- Construção da Sede Social do Engenhão.
- Caracterização do Estádio Olímpico como sendo Estádio do Botafogo, ampliando a decoração feita no Setor Visa para todas as alas.

5 – Marketing.

A Chapa Movimento Carlito Rocha entende que o atual Departamento de Marketing não explora a contento a forte marca que o Botafogo de Futebol e Regatas possui, conhecida nacional e internacionalmente. Com isso, a chapa propõe as seguintes medidas:

- Maior utilização dos mascotes Biriba e Biruta, de forma a aumentar a entrada do clube junto a segmento social infantil, formando os torcedores do futuro, e não somente dentro do estádio, mas fora dele, em praças, praias e escolas.
- Melhor interação com o torcedor do Botafogo que more fora do Município do Rio de Janeiro, que hoje representa 90% da torcida do Botafogo, através de sócio-torcedor e promoções.
- Realização de pré-temporadas e inter-temporadas em locais fora do Rio de Janeiro que, notoriamente, possuam grande quantidade de torcedores, como Brasília, Juiz de Fora, Vitória, João Pessoa e Cuiabá, entre outros, criando maior vínculo com os torcedores de fora do Estado.
- Reorganização total do Portal do Botafogo na internet, transformando-o na referência de informação sobre Botafogo na internet, sendo prestado, entre outros, os seguintes serviços: (I) Botafogo TV, a TV virtual do Botafogo, com transmissões de partidas ao vivo; (II) fórum; (III) colunas; (IV) shopping online; (v) tour virtual pelo clube; (VI) história; (VII) plantel atual,(VIII) Rádio Botafogo; entre outros serviços.
- Combate à pirataria através do barateamento dos produtos oficiais do Botafogo, com criação de linhas alternativas de camisas oficiais, e diferentes modelos de tecidos.
- Utilização de uma assessoria de imprensa competente, que minimize os destaques negativos da mídia sobre o clube.

6 – Relação Clube-Torcida

A Gestão Movimento Carlito Rocha terá um Departamento de Torcidas, onde o diretor será responsável por:

- Ouvir as demandas, críticas e sugestões dos torcedores.
- Facilitar a viagem de torcedores para acompanhar o clube em outras cidades, através de pacotes turísticos, requisição de ingressos junto à diretoria do clube adversário, entre outras medidas.
- Melhorar a relação das torcidas organizadas com a diretoria.

7 – Esportes Amadores.

A Chapa Movimento Carlito Rocha ampliará a participação do clube nos esportes amadores, em especial nas categorias adultas, priorizando os atletas formados nas vitoriosas categorias de base do clube, com patrocínio e receitas próprias, além de estimular parcerias com empresas que já atuem nos esportes olímpicos.

8 – Finanças.

A Chapa Movimento Carlito Rocha terá sempre como objetivo o saneamento das finanças do clube, sem descuidar da qualidade do elenco do futebol profissional. As dívidas do Botafogo de Futebol e Regatas dividem-se em: tributária, cível e trabalhista.

A Chapa Movimento Carlito Rocha defende a manutenção e melhoria do acordo dos clubes com a Timemania, de modo a equacionar a grande dívida tributária que os grandes clubes do Brasil, inclusive o Botafogo, possuem com o Governo Federal. A criação da Timemania foi uma grande vitória que teve apoio fundamental do Movimento Carlito Rocha.

Quanto às dividas trabalhistas, será respeitado o acordo do Botafogo com o TRT, para recolhimento de importância fixa mensal, com finalidade de equacionamento integral destes débitos.

As dívidas cíveis serão renegociadas gradativamente, sem onerar excessivamente a receita do clube.

A Chapa Movimento Carlito Rocha tem como prioridade o aumento de receita do clube, principalmente através de ações de Marketing.

No futebol profissional, a Chapa Movimento Carlito Rocha terá como regra a aplicação eficiente de recursos, tendo como princípio não ter folha salarial maior do que a receita mensal do clube, fazendo assim uma gestão séria e consciente.

Votar na Chapa Movimento Carlito Rocha é a garantia de que a gestão administrativa do Botafogo será feita com responsabilidade, evitando a volta de pessoas e grupos políticos que dilapidaram o patrimônio do clube, malversando seus recursos.

MONTENEGRO, NÃO!

ESSE TEXTO FOI UM MANIFESTO CONTRA A CANDIDATURA DO MONTENEGRO, LANÇADA EM 2008 E QUE, FELIZMENTE, NÃO FOI VIABILIZADA.

Não apóio o retorno de Carlos Augusto Montenegro por três razões simples: (1) pelo dirigente que ele foi, (2) pelo dirigente que ele é e (3) pelo dirigente que ele pretende ser.É um texto longo, mas espero que sirva de reflexão. Por fim, teço algumas considerações próprias sobre o Botafogo que eu quero.E faço aqui um “disclaimer”: todas as idéias aqui contidas são exclusivamente minhas, não podendo ser imputadas a nenhum movimento político do clube e nem a qualquer torcida organizada.

O DIRIGENTE QUE ELE FOI

Montenegro assumiu o clube em 08/12/1993, portanto, APÓS A CONQUISTA DA COPA CONMEBOL, que muitas pessoas creditam a ele, mas que, na verdade, se deu na gestão-tampão de Mauro Ney Palmeiro.Montenegro encontrou um clube sem dinheiro, sem elenco, sem sede e sem dignidade. Mas também, frisa-se, praticamente sem dívidas, pois, segundo os jornais da época, a dívida do clube não ultrapassava meio milhão de dólares e o dólar estava em paridade com o recém criado real..Teve como grande mérito administrativo utilizar sua influência política para tombar o casarão colonial, fazendo com que o imóvel da Rua General Severiano sofresse a desvalorização necessária para que tivéssemos condições de reavê-la.O processo de reaquisição da nossa casa foi extremamente custoso. Em troca do imóvel de Gen. Severiano, demos um imóvel na praia de Botafogo onde foi erguido um grande centro empresarial, em área nobre da cidade. Esse centro é hoje ocupado, entre outras empresas, pela Vivo e vale algumas dezenas de milhões de reais.Para a reconstrução da sede, foi dada a concessão de boa parte do terreno para a construção de um shopping. O shopping, que também fica em área nobre da cidade e é um grande centro gastronômico, rende apenas 3% de seus lucros para o clube, e o tempo de duração dessa concessão é desconhecido para a maioria, onde aqui me incluo, talvez para preservar a boa imagem do “presidente campeão”.A sede, em si, não é grande atrativo para os sócios, contendo duas churrasqueiras, um sauna, piscina, um bar, um ginásio, duas quadras, uma quadra de society e um campo com as dimensões mínimas.Nesse sentido, eu trago uma experiência própria minha. Hoje sou sócio apenas do Botafogo de Futebol e Regatas, mas, outrora, fui sócio do alvinegro da serra, o Petropolitano Football Club. Até dois anos atrás, quando deixei de ser sócio do alvinegro da serra, a mensalidade custava 70 reais, e dava direito a duas sedes sociais, totalizando 3 bares, 7 quadras de tênis, 2 piscinas (uma semi-olímpica), 2 quadras poliesportivas, sauna, salão de jogos de mesa (sinuca, pingpong, etc), salão de jogos de carta, academia de ginástica, ginásio e campo de dimensões oficiais, além de intensa atividade social dentro do salão principal, com happy hour em alguns dias e festas noturnas, onde o sócio sempre pagava a metade do preço.Para quem participou das atividades de um clube com vida social, sabe o quanto isso faz falta ao Botafogo, e grande parte disso se deve à falta de estrutura da sede, embora reconheça que, antes da mesma, não havia absolutamente nada. E quem idealizou a sede como ela se encontra foi CA Montenegro, para bem ou para mal.O elenco de 1994 foi um bom elenco, que honrou as tradições do clube, e serviu de base para o elenco campeão de 1995. Sobre o campeonato de 95, a maior alegria da nossa história, duas críticas: (i) o próprio Montenegro, em diversas ocasiões, admitiu que o título de 95 foi uma felicidade, mas uma obra absoluta do acaso e (ii) o que se viu a seguir, o desmonte do time de 95, inviabilizou uma disputa digna da Libertadores de 96.O ano de 96, apesar do título municipal (sim, teve um municipal naquele ano, anterior ao estadual, em que vencemos de forma invicta, tendo o Madureira como vice), não foi bom. O Flamengo foi campeão estadual invicto e nossa participação no brasileiro, como detentores do título, foi pífia. Ao final do mandato, a dívida do clube já era superior a alguns milhões (segundo estimativas, pois o balanço foi aprovado por conta da força política e do prestígio do presidente, além dos arquivos terem misteriosamente sumido).E então vai a pergunta: como a dívida cresceu tanto sem que conseguíssemos manter nossos jogadores para 96? Faria sentido termos uma grande dívida se tivéssemos mantido Donizetti, Narciso, Sergio Manoel, Leandro Ávila, entre outros. Mas, se não mantivemos, por que ela cresceu?Caberia ainda falar algo a respeito da relação de Carlos Augusto Montenegro, como Presidente do Botafogo, e o Desembargador Federal Francisco Pizzolante, mas como esse processo ainda está em andamento, sugiro às pessoas que procurem pesquisar a respeito desse assunto.O descalabro administrativo prosseguiu com a administração Rolim, patrocinada por Montenegro. Em três anos foram um estadual (97), um rio-sp (98), um vice da Copa do Brasil (99) e mais alguns muitos milhões de dívidas, e só crescendo. Patrocínios irrisórios, sede abandonada e Caio Martins valorizado como um grande estádio.Já que falei de Caio Martins, vou me estender um pouco nesse assunto. Talvez nenhuma decisão tenha sido tão prejudicial para o Botafogo quanto a aquisição de Caio Martins. Quando passamos a mandar os jogos nesse estádio, o torcedor do Botafogo, que era o mais fiel do Rio, simplesmente foi desacostumado a freqüentar as arquibancadas. Eu já li em diversos lugares que, na tenebrosa década de 80, bastava uma vitoriazinha meia-boca contra um Bonsucesso da vida para, no dia seguinte, enchermos o Maracanã. Caio Martins foi o começo do rompimento do clube com a torcida. Um estádio com capacidade para 5.000 pessoas, sem estacionamento, para comportar uma torcida como a nossa foi uma decisão, para dizer o mínimo, infeliz. Numa entrevista para um site do Botafogo, recentemente, Montenegro defende a aquisição do Caio Martins. Novo sinal de falta de visão do ex-presidente.Voltando ao final da administração Rolim, surge como candidato Mauro Ney Palmeiro, novamente patrocinado por Montenegro. Novo descalabro administrativo: dívidas crescendo exponencialmente, falta de patrocínio, contas atrasadas, times ridículos, e, a cereja do bolo, a queda para a segunda divisão. Aqui já podíamos estimar a dívida em 200 milhões de reais.Outrossim, cabe novamente ressaltar a grande “colaboração” do então conselheiro Montenegro. Foi ele o maior defensor da aprovação das contas absurdas da administração Mauro Ney. Ah sim, os computadores e arquivos sumiram de novo, mas isso já não é novidade no “Montenegro way of administration”.Em suma: o modelo implantado por Montenegro, apoiado em jogadores de empresário e de empréstimo, sem preocupações com o balanço financeiro, com estádio precário, sem CT e baseado em um amadorismo romântico, que embora bonito, não pode mais ser aplicado no futebol moderno, foi o motivo determinante para a queda do Botafogo para a segunda divisão, e mais do que isso, para tornar pequena a mentalidade do torcedor alvinegro e afastá-lo do estádio. O clube foi abandonado pela própria torcida por causa dessa política temerária.Então vem o primeiro mandato de Bebeto de Freitas. Reconstrução do time, volta à primeira divisão, aumento do Caio Martins para 20.000 pessoas (2003), utilização da Arena Petrobrás para 30.000 pessoas (2004) e Maracanã de 100.000 pessoas (2005). A maior conquista da primeira gestão foi, sem dúvida, enxergar a verdadeira tumba que era Caio Martins. A nossa tumba. Um estádio de 5.000 pessoas não serve para o Botafogo. Até hoje, nos jogos de pouco apelo, somente 5.000 pessoas, em média, vão as jogos, muito por causa do ainda presente “efeito Caio Martins”.E Montenegro sempre na oposição...Vendo que a derrota da oposição era certa, ao fim de 2005, Montenegro se aproxima de Bebeto. Esse, querendo a unidade do clube, aceita. De fato, o clube deu mais um passo na segunda gestão, com a volta do clube ao cenário internacional, a aquisição do Engenhão, a reestruturação das dívidas, entre outras melhorias. Mas isso já é papo para a segunda parte desse artigo.

O DIRIGENTE QUE ELE É

Montenegro, nessa segunda gestão, nunca soube demonstrar a serenidade necessária para conduzir profissionalmente o departamento de futebol do Botafogo.As contratações indicadas por ele, então, foram as piores possíveis, sempre baseadas em nome, e não no desempenho recente do jogador em questão. O destaque, nesse caso, foi Athirson.Se formos analisar bem, QUASE todos os jogadores que tiveram algum destaque no Botafogo, ainda que por algum tempo, ao longo desses três anos foram indicações de diversas pessoas, menos do Montenegro: Lúcio Flávio, Diguinho, Túlio, Scheidt (Bebeto); Zé Roberto, Reinaldo (Péricles Chamusca), Joílson (PC Gusmão), Juninho (Bonamigo), Carlos Alberto (Rotemberg), Jorge Henrique e Leandro Guerreiro (Cuca).Fiz questão de destacar aquele “quase” porque um jogador indicado pelo Montenegro fez sucesso. O nome dele? DODÔ...Não tenho como comprovar isso, mas o que se fala no clube é que Dodô era muito próximo ao CAM, e sempre foi motivo de distúrbio dentro do elenco de 2007. O episódio da “Tragédia do Monumental” deixou isso claro para todos. Por fim, o escândalo do “doping” manchou a reputação da instituição Botafogo junto a organismos nacionais e internacionais. Quem inventou a desculpa da “pílula adulterada”? CAM novamente.Falando na “Tragédia do Monumental” (para quem não sabe, uma das maiores vergonhas da história do futebol do Botafogo – a fatídica derrota para o River Plate por 4x2, onde o River precisava marcar 3 gols para nos eliminar em 18 minutos com um homem a menos), muitas pessoas defendem o modo como Montenegro agiu durante o acontecido. Eu, certamente, não sou uma dessas pessoas. Todo o seu destempero fragilizou de tal forma o elenco, que até o fim do ano nunca mais foi o mesmo. A demissão do Cuca e contratação do Mário Sérgio, para posterior recontratação de Cuca foi de uma infantilidade e despreparo psicológico sem precedentes na história desse clube.Em suma, o dirigente que Montenegro se mostra hoje é alguém sem preparo psicológico, destemperado, excessivamente passional e que muda de idéia constantemente, sem manter uma linha firme de atuação, o que, em termos administrativos, é uma calamidade. Além disso, a questão da pílula adulterada ficou mal explicada. Não posso afirmar aqui que houve fabricação de provas para inocentar Dodô, mas a falta de explicação sobre a procedência da pílula analisada pela USP faz com que qualquer um possa pensar o que quiser.

O DIRIGENTE QUE ELE PRETENDE SER

Muito me incomoda ver como essa questão eleitoral foi dirigida por ele e, sem dúvida, o comportamento do Montenegro nesse período pré-eleitoral nos pode dar uma idéia de que tipo de Presidente ele pretende ser.Como é sabido, hoje são duas as principais correntes políticas que conduzem o Botafogo, dando sustentabilidade à gestão Bebeto: a corrente do Montenegro e o Movimento Carlito Rocha, embora outras pessoas, além de correntes menos organizadas também influam decisivamente no clube.Durante esse período pré-eleitoral, o que se viu, por parte do MCR, foi o pedido de conciliação política, visto através de seu site oficial, ao passo que, unilateralmente, Montenegro sempre forçou a criação de uma chapa própria, primeiro encabeçada pelo Deputado João Figueira, depois encabeçada pelo próprio Montenegro.Essa atitude, embora reconheça que seja absolutamente legítima, se deu em um momento muito infeliz, pois fazemos hoje uma grande campanha, que pode culminar com uma volta à tão sonhada Libertadores, além de conquistarmos a inédita (em termos de clubes brasileiros) Copa Sul-Americana. A conquista de uma vaga para a Libertadores e o título da Copa nos estabeleceria definitivamente como um dos maiores clubes brasileiros, concluindo brilhantemente o trabalho de resgate da grandeza do nosso clube. O anúncio unilateral dessa chapa criou uma cisão na diretoria, e fragilizou politicamente o nosso clube junto a outras agremiações, além de conturbar administrativamente a instituição.Essa atitude, combinada com outras praticadas atualmente por Montenegro, me faz vislumbrar um mandato conturbado, onde o presidente Montenegro será extremamente autoritário, aplicando políticas amadoras, populistas (junto a torcidas organizadas), cercado de empresários e sem nenhuma responsabilidade fiscal. Bem ao estilo de Eurico Miranda, que acabou de sair da presidência do Vasco da Gama, deixando o clube na penúria, com um time patético e bem próximo da segunda divisão.A insistência de Montenegro em ter como vice o Deputado João Pedro Figueira também é digno de nota, pois o deputado se encontra envolvido em diversas investigações de malversação de dinheiro público dentro da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.E é por isso que eu temo pela gestão Montenegro e, principalmente, pelo futuro do Botafogo.

O FUTURO DO BOTAFOGO – UMA VISÃO PARTICULAR

Sempre entendi que a pura crítica não é suficiente, sem que se traga, no seu bojo, um projeto para resolver as deficiências apontadas. Trago aqui, então, uma visão do que eu gostaria que fosse implementado no clube pelo próximo presidente, seja ele Montenegro ou qualquer outro botafoguense.

O FUTEBOL DO BOTAFOGO – MODELO EMPRESARIAL

Já foram implementadas as bases desse Botafogo moderno no campo do futebol. A Companhia Botafogo já é a gestora do Engenhão, que é um estádio moderno com excelente capacidade. Esse fato já é meio caminho andado para a total modernização do clube.Mas a Companhia Botafogo hoje vive num certo obscurantismo, pois uma sociedade anônima, no Brasil, requer pelo menos dois sócios. Se o clube Botafogo é um dos sócios, quem é(são) o(s) outro(s)? Essa é uma pergunta que deve ser respondida.Em um modelo moderno de gestão, a Cia. Botafogo deverá ter 50% de suas ações vendidas a um grupo econômico que pretenda investir no futebol, ficando os outros 50% com o clube Botafogo. A venda dessas ações e esse investidor seriam as bases financeiras para todas as propostas abaixo elencadas.Essa empresa administraria modernamente o Estádio, captando patrocinadores e explorando o estádio para diversos outros fins, além do futebol.Nesse diapasão, deve se destacar o problema dos galpões do Engenhão. Antes da licitação que deu ao Botafogo a gestão do Estádio, os galpões foram cedidos ao COB para que lá fosse feito um projeto olímpico. Criou-se então o impasse: sem o estádio (que é nosso), o COB não tem como explorar os galpões, e sem os galpões o Botafogo não tem como explorar na sua totalidade o estádio, pois a partir desses galpões que se construiriam escritórios, estacionamento, universidade, centro gastronômico, entre outros projetos já em curso. COB e Botafogo precisam chegar a um denominador comum, de modo a que ambos lucrem e que as instalações de atletismo não fiquem subutilizadas.O Marketing do clube também deverá ser gerido pela Cia. Botafogo, com maior utilização do mascote Biriba, criação da TV Botafogo, melhora urgente do site do clube, e opções mais baratas para os uniformes oficiais. Um exemplo claro se tem da NFL (futebol americano). Uma camisa oficial de um time da NFL custa em torno de 550 reais, mas os fãs menos abastados compram réplicas oficiais com excelente qualidade e feita pela empresa que faz as camisas oficiais por cerca de 160 reais. Por que não lançar réplicas das camisas oficiais, com material bom, por 30 ou 40 reais, combatendo, assim, a pirataria? O marketing do Botafogo é muito amador.A Cia. Botafogo também geraria a base do clube, com a construção do projeto já feito de CT em Marechal Hermes, com vários campos, concentração e convênios com escolas, para que nossos futuros craques exercitem a mente e o corpo.O futebol profissional do clube se transferiria para Caio Martins, implementando-se o também já pronto projeto de revitalização do complexo, com três campos de futebol, hotel e academia.

O CLUBE BOTAFOGO

Com isso, o clube poderia finalmente valorizar o seu sócio, através de uma revitalização do clube. Com a gestão profissional e a saída do futebol de General Severiano, o campo seria utilizado para a construção de novas quadras poliesportivas, quadras de tênis, salões de jogos e academia, dando vida social ao clube, aumentando a participação do sócio no dia a dia do clube, aumentando o número de sócios e até aumentando as receitas com isso. O grande culpado do pequeno número de sócios do clube e a falta de infra-estrutura do mesmo.A conseqüência natural seria o fortalecimento do esporte amador. Se em épocas distantes o sócio ia ao clube para ver nosso time de futebol treinar, no futuro o sócio chegaria no clube, se exercitaria, cairia na piscina, jantaria e depois veria algum time nosso, como o de vôlei, ou basquete, treinando ou atuando honradamente em ligas estaduais e nacionais, elevando o nome do Botafogo.

CONCLUSÃO

Mais importante que os nomes, são as idéias. No momento em que um candidato, seja ele quem fosse, apresentasse essas idéias modernas para o clube, eu seria o primeiro a apoiar, ainda que tivesse algumas restrições de ordem pessoal.O que não se pode apoiar é uma volta a um modelo arcaico de administração, que levou o Botafogo a uma dívida de 200 milhões e à segunda divisão.Portanto eu vou terminar esse artigo aperfeiçoando o título. Melhor que “Montenegro não” seria “Idéias do Montenegro não – por um Botafogo profissional”.

O ENGENHÃO – UM “COMPLEXO” MUITO COMPLEXO

ESSE TEXTO MEU É UMA ANÁLISE APROFUNDADA DO PROBLEMA DO ENGENHÃO, PUBLICADA NA COLUNA DO CESAR NO "COLUNISTA POR UM DIA".

Em meados de 2007 o Botafogo de Futebol e Regatas, através da Cia. Botafogo (1), arrendou o Estádio Olímpico João Havelange, conhecido como Engenhão, principal obra feita pela prefeitura para o Pan 2007, por 20 anos, através de uma licitação justa, pagando uma quantia mensal modesta.

O maior desafio da nova administração é tornar o Engenhão rentável, com a construção de um moderno “complexo”, abrangendo diversas atividades sociais e econômicas.

Desde já agradeço ao colunista desse espaço por me dar oportunidade de mostrar que explorar o Engenhão não é tão simples e que certas críticas à atual diretoria quanto a esse tema, embora pertinentes, são, certamente, exageradas.

Como tentarei demonstrar nas próximas linhas, o aproveitamento deste “complexo” é um pouco mais complexo do que se imagina.

Preliminarmente – Uma crítica necessária

O Pan 2007 foi, sem dúvida, um verdadeiro buraco negro de dinheiro público. Praticamente todas as obras foram superfaturadas, nenhuma melhoria se viu no Município, as obras foram destinadas a entidades privadas por preços irrisórios, e a verdadeira infra-estrutura da cidade pela qual a prefeitura é responsável viu-se abandonada, entre os quais: colégios, hospitais, ruas e praças.

E o destaque maior foi, sem dúvida, o Engenhão.

Orçado em 150 milhões de reais, o custo total do Estádio foi de 380 milhões, sendo o gasto final 150% maior do que foi originalmente previsto.

Fico imaginando o quanto será desviado na Copa de 2014 e numa futura Olimpíada Mundial. Que Deus tenha piedade do povo carioca e brasileiro.

Engenhão – Linhas iniciais

Ao final do Pan 2007 foi lançado o edital para concessão do Estádio Olímpico. O Botafogo, que nada tem a ver com o problema orçamentário do município, venceu a licitação, sendo o único concorrente, pelo simples fato de ser o único clube carioca que preenchia todos os requisitos do edital, o que demonstra a total incompetência das diretorias dos nossos rivais, além de ter sido um gol de placa da nossa.

Com isso, realizamos o sonho de todo botafoguense: ter o nosso próprio estádio!

Mas isso, infelizmente, não é o suficiente. Para que o nosso sonho não vire um pesadelo, com o Engenhão sendo uma fonte de prejuízos, e não de lucros, se faz necessário que a gestão desse estádio seja altamente profissional e não fique restrito a atividades do time em dias de jogos.

E essa tarefa é mais difícil do que parece, pois uma série de problemas cerca o Engenhão, muitas vezes inviabilizando projetos que são aplicados em todas as arenas modernas do mundo.

Para que essa problemática fique bem clara, apresentaremos primeiro o projeto bem sucedido do Emirates Stadium, do Arsenal Football Club, localizado no norte de Londres, capital do Reino Unido.

Juntamente com o Emirates, traremos o projeto do novo Estádio Olímpico do Grêmio de Football Porto Alegrense, que é o projeto que melhor se adequaria, em princípio, ao Engenhão, além de ser um projeto adequado à realidade brasileira.

Em seguida, mostrarei os problemas de se montar um projeto análogo ao do Grêmio no nosso Estádio Olímpico. Por fim, tentarei encontrar algumas soluções para o nosso Estádio.

Os Bons Projetos – O “State of the Art” e a Realidade Brasileira.

Vamos começar falando do Emirates Stadium, estádio do Arsenal. O Emirates foi uma necessidade do Arsenal, clube de maior torcida de Londres, que se via confinada ao Highbury, um estádio de 37.000 lugares, portanto menor até que o nosso Engenhão, tendo todos os seus jogos com lotação máxima desde a criação da Premier League, em 1992. Vale lembrar que a lotação máxima ocorre desde esse ano por conta da queda drástica da violência nos estádios, que teve como ponto de partida o Relatório Taylor, de 1990, sobre a tragédia de Hillsborough (2).

Através de financiamento exclusivamente privado, tendo como principal financiador o Royal Bank of Scotland, o Arsenal concluiu seu moderno estádio, verdadeiro “state of the art” (supra sumo da modernidade).

A primeira grande fonte de renda da nova arena se deu com a venda do seu nome para a empresa da aviação Emirates, que, empolgada com o projeto, também resolveu patrocinar o clube na camisa, em um contrato multimilionário e que tem um retorno de mídia absolutamente estrondoso. Basta constatar que, até o patrocínio ser firmado, praticamente ninguém no Brasil conhecia o Emirates.

Dentro do estádio o conforto é total. Os 65.000 torcedores que vão a todos os jogos do Arsenal encontram cadeiras confortáveis, bares, restaurantes, cinemas, boliche, lojas, museu do Arsenal, entre outras comodidades. Os gunners (torcedores do Arsenal) passam o dia no Emirates, e só no final da tarde de sábado entram, efetivamente, nas arquibancadas.

Os 10.000 que pagam um pouco mais caro para ir na ala vip, encontram cadeiras acolchoadas e um terminal eletrônico na cadeira, onde pedem o que quiser do bar e um garçom vem, com o pedido já na mão, servi-lo, o que acaba com aquele ambulante chato que fica na sua frente, especialmente quando o time está para marcar um gol.

Uma nota interessante é que o Estádio não possui estacionamento, pois fica ao lado de estações de trem e metrô, além de ter ampla rede de ônibus de dois andares à disposição. O Arsenal estimula a ida do seu torcedor através de transporte coletivo, fazendo com que, mesmo com a regular lotação máxima, o torcedor não leve mais que meia hora para chegar em casa. Acreditem, não há engarrafamento no entorno do Emirates! Esse é outro grande estímulo para o gunner ir ao estádio.

Os lucros do Arsenal quadruplicaram desde então, isso levando-se em consideração que ele ainda paga pelo financiamento do estádio. Atualmente o Arsenal tem comprado cada vez mais imóveis no entorno do estádio, para aumentar a quantidade de serviços prestada ao seu torcedor.

Projeto mais realista é o do Grêmio. Começará em breve a construção do Novo Olímpico, em parceria com a empresa de engenharia OAS.

Os custos serão arcados pela OAS e o projeto prevê: shopping center, hotel, prédios de escritórios, centro de convenções e estacionamento com 5 mil vagas. A bilheteria e o arrecadado com venda de comidas e bebidas (catering) serão exclusivamente do Grêmio, que terá parcela significativa no lucro dos outros empreendimentos.

O projeto do Grêmio é o que há de mais moderno hoje em termos de arena multiuso no Brasil.

A Realidade Alvinegra – Finalidade do Estádio, Alto Preço e Pouca Diversidade do Catering, Falta de Espaço, Contrato Amarrado, Concorrência e Local de Baixo Poder Aquisitivo.

O Engenhão possui sérios problemas que dificultam a sua transformação em uma arena rendável.

O primeiro problema é o mais evidente: O ENGENHÃO NÃO É UMA ARENA MULTIUSO!

Ele foi construído com uma finalidade específica: ser a sede principal do Pan 2007. Portanto, ele é, primeiramente, um estádio de atletismo, secundariamente, um estádio de futebol e posteriormente, qualquer outra coisa. Não foi criado tendo como objetivo receber eventos musicais, teatrais, entre outros. Há de se notar também a sua péssima acústica, pois o vão que existe atrás dos setores norte e sul fazem escoar todo o som por ali. E eu digo isso sem ser engenheiro! Um homem médio consegue notar essa falha gritante, ou melhor, silenciosa...

Com isso, a acústica não impõe pressão ao adversário e a torcida fica longe do campo e inviabiliza o estádio para grandes shows. Se o show do The Police tivesse sido no Engenhão, quem estivesse no fundo teria sérios problemas em ouvir a voz do Sting, os solos de Summers e a batera de Copeland.

Mas essa problemática não pode impedir o clube de explorar o estádio, principalmente em dias de jogos. Dentro do estádio, as duas grandes receitas, hoje, em dias de jogos, são os ingressos vendidos e o catering. Para quem não sabe, catering é a quantidade de alimentos vendidos dentro do estádio. A lógica é óbvia: quanto mais ingressos vendidos, mais torcedores, e quanto mais torcedores, mais catering.

Sobre os ingressos, cabe uma crítica: as arquibancadas superiores, com melhor visão, são mais baratas que as inferiores, com pior visão. Não faz sentido.

Quanto ao catering do Engenhão, não há nada mais criticável no estádio. O preço dos refrigerantes, picolés, e cervejas sem álcool é muito alto. A proibição governamental de cerveja dentro do estádio é um crime, pois os ambulantes que ficam fora do estádio vendem livremente, roubando dinheiro que seria do clube. Os hambúrgueres são frios e caros e os cachorros-quentes só podem ser enxergados com lupas. O Biscoito Fofura, vendido a 50 centavos fora do estádio, custa 4 reais lá dentro.

Com isso, a venda de produtos cai vertiginosamente. O bom negociante é aquele que ganha na grande quantidade de produtos vendidos, e não individualmente em cada produto. Essa política de preços deve mudar imediatamente.

Outro problema sério do Engenhão é a falta de espaço para se erguer um grande centro comercial e empresarial. No quarteirão onde hoje se encontra o nosso Estádio, poderíamos encontrar quatro espaços para construção de centros comerciais.

O melhor lugar se situa na esquina do setor oeste com o setor sul (Rua José dos Reis com Arquias Cordeiro), onde hoje se vê uma série de galpões abandoando. Esse terreno foi desapropriado pela prefeitura e cedido, antes da licitação do Engenhão, para o COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Esse seria o melhor espaço por ser o mais amplo e por estar de frente para a Estação de Trem. Mas, como informei em outro artigo (http://www.canalbotafogo.com.br/?id=1127), existe hoje uma negociação entre Botafogo e COB para utilização desse espaço, pois sem acesso ao estádio, os galpões não servem pro COB, e sem acesso aos galpões, o Estádio fica subutilizado pelo Botafogo.

Outro lugar interessante seria a estrutura localizada entre os setores sul e leste (Rua Arquias Cordeiro com Dr. Padilhaa). Esse espaço, embora menor, também se situa em frente à Estação de Trem, e encontra-se abandonado. Não sei se faz parte do terreno doado ao COB.

Mais um lugar de destaque seria o campo anexo ao engenhão, onde se tem não só o campo, mas também outra pista de atletismo. Esse espaço fica entre os setores leste e norte (Rua Doutor Padilha com Rua das Oficinas). Nesse caso o problema é o contrato de concessão, que impede a remoção desse campo. Sobre o contrato, cabe ainda ressaltar o problema que ele nos traz por ser excessivamente rígido no que tange às modificações do estádio. Ele impede que removamos as pistas de atletismo e modifiquemos o nome do Estádio, o que traz prejuízos enormes ao clube, especialmente quanto ao “naming rights”.

O último e menos apropriado lugar para construção de um centro econômico seria o espaço localizado entre os setores oeste e norte (esquina da Rua das Oficinas com José dos Reis). Esse espaço não foi desapropriado e encontra-se cheio de pequenos comerciantes e residentes.

Portanto, a princípio, não temos como crescer dentro do nosso próprio estádio, por absoluta falta de espaço ou por amarras do contrato de concessão. Mas, pior do que isso, é a constatação de que, mesmo que tivéssemos o espaço necessário e a verba para construção dos centros comerciais, encontraríamos uma concorrência estabelecida e altamente profissional: o NORTESHOPPING.

O Norteshopping, localizado a 15 minutos, a pé, do Engenhão, é um dos dois maiores complexos comerciais do Rio de Janeiro. Não saberia informar hoje qual é o maior, se o NorteShopping ou o BarraShopping.

Esse imenso shopping possui, hoje, uma amplíssima rede de lojas, com absolutamente todas as marcas possíveis no mercado, desde as mais caras até as mais baratas.

No setor de lazer, são várias as comodidades do NorteShopping: boliche, patinação no gelo, cinema UCI (com a mais moderna tecnologia), Teatro Miguel Falabella, dois flipperamas gigantescos, kart, amplo centro gastronômico, com restaurantes e bares famosos como Outback, Chopperia Devassa, Pizzaria Parmê, Bibi Sucos e grandes cadeias de fast food, sem contar com um estacionamento de mais de uma dezena de milhares de vagas.

O setor de serviços privados oferece, entre outros: armarinho, bancos, cabelereiros, casa de câmbio, escola (CEL – um dos mais conceituados do Rio de Janeiro), correios, costureiros, jornaleiros, lava-carros, lavanderias, loterias, táxis, e centro de cosmética e beleza. Futuramente será instalado um campus da Universidade Estácio de Sá, a maior rede universitária do Rio de Janeiro. Até mesmo serviços públicos são prestados lá, com postos do Detran, Ministério do Trabalho e Secretaria Municipal de Fazenda.

A concorrência com centro econômico tão grande já seria naturalmente altamente arriscado. Soma-se a isso o fato de que a área onde o Engenhão e o NorteShopping estão localizados é uma região conhecida por seu baixo poder aquisitivo em relação a outras áreas da cidade. Para quem não conhece a cidade do Rio de Janeiro, a zona sul, juntamente com São Conrado, Barra, Recreio e Vargem Grande, são reconhecidamente as áreas de maior poder aquisitivo do Município. Em seguida vem a parte mais nobre da Zona Norte (Tijuca e arredores). Somente então vem a parte pobre da Zona Norte (onde se encontram Engenhão e NorteShopping) e a parte paupérrima da Zona Oeste.

É fato notório que empreendimentos de alto risco nunca foram os favoritos do empresariado altamente conservador brasileiro, e construir um complexo comercial que concorresse com outro estabelecido há anos, numa região cujo baixo poder aquisitivo é amplamente conhecido, faz com que o risco seja altíssimo, o que afasta pretensos investidores, deixando o Botafogo em situação ainda mais delicada.

E é por isso que a construção do Complexo Comercial do Engenhão é uma operação altamente complexa!

Algumas Soluções Apontadas

A partir dos problemas apontados, que, recapitulando, são: (a) a finalidade do estádio, (b) os ingressos e alimentos caros, (c) falta de espaço, (d) o contrato de concessão amarrado, (e) concorrência com o NorteShopping e (f) a localização do estádio em bairro de baixo poder aquisitivo da população; podemos buscar algumas soluções.

Quanto ao fato de o Estádio não ser o ideal para a prática do futebol, algumas soluções podem ser facilmente aplicadas. A acústica seria melhorada com a utilização de lonas atrás dos setores norte e sul. Essa já é uma campanha forte em fóruns do Botafogo na internet. Além da melhora do som, serviria também para melhor caracterizar o estádio e aumentar a receita com propaganda, desde que essa lona contivesse símbolos do Botafogo e do patrocinador. Outra idéia é a captação dos sons da torcida e utilização de alto-falantes para aumentar a sonoridade da torcida junto ao campo. Por conta do contrato amarrado, não podemos rebaixar o campo e acabar com a pista de atletismo.

Sobre os ingressos, deveria prevalecer a lógica aplicada em todos os estádios do mundo: lugares mais altos, ingressos mais caros, lugares mais baixos, ingressos mais baratos. Com isso, seriam 3 faixas de preço no Engenhão: arquibancadas superiores mais caras, arquibancadas inferiores centrais no meio termo, e arquibancadas inferiores laterais mais baratas. A manutenção do programa sócio-torcedor ou outro análogo é essencial, de forma a baratear os ingressos para quem não perde nenhum jogo no ano, como este que aqui escreve.

Os preços dos alimentos precisam cair urgentemente, de forma a se lucrar com a grande quantidade de venda. Os produtos vendidos precisam melhorar, principalmente o cachorro-quente e a concessão de espaços dentro do estádio para cadeias de fast food, tal como aconteceu com o Bob`s durante a reforma do Caio Martins e durante a utilização da Arena Petrobrás é outra forma de melhorar a qualidade dos produtos vendidos.

Quanto à falta de espaço, a melhor opção é chegar a um acordo com o COB sobre os galpões. Com isso, lucraríamos não só com a construção de um complexo comercial, como também alugando as instalações de atletismo para os atletas do COB.

O fato de o contrato de concessão ser amarrado não impede que exploremos suas brechas. Uma idéia já posta em prática é vender o nome das alas para empresas interessadas, tal como foi feito com o setor oeste inferior, hoje setor visa, já que não podemos vender o nome do Estádio. O problema é vender o nome da ala sem aumentar o preço do ingresso, o que fez com que o setor visa ficasse sempre às moscas. Se bem que o problema principal do setor visa nem é o preço, mas sim a restrição absurda de somente poder ser comprado o ingresso através de cartão visa. E fica o lamento, pois a venda de nomes de alas não tem a mesma importância, e nem traz a mesma quantidade de recursos que traria a venda do nome do Estádio.

E agora tocamos na principal discussão do texto: é possível construir um complexo comercial com a mesma estrutura que o Grêmio pretende implantar no Novo Olímpico? Relembrando, o novo estádio do Grêmio terá shopping center, hotel, prédios de escritórios, centro de convenções e estacionamento com 5 mil vagas. Vamos então analisar ponto a ponto.

Fazer um shopping em um terreno a 15 minutos do NorteShopping em um local de baixa renda é, para mim, suicídio econômico. O Botafogo já teve um problema parecido quando da construção do antigo Rio Off Price, hoje Rio Plaza, na sede de General Severiano, que fica em frente ao Rio Sul, um dos maiores shoppings do Rio. Resultado: o shopping ficou vazio durante muito tempo. A solução encontrada foi até de certa forma simples. Os novos administradores pensaram: “como podemos concorrer com o Rio Sul?”, e a resposta foi: “oferecendo serviços que o Rio Sul não oferece”. É sabido que o Rio Sul, em comparação com outros shoppings do Rio, tem um centro gastronômico muito fraco, pois aquele shopping tem como prioridade as lojas de roupas de marca. Com isso, o Rio Plaza especializou-se nesse segmento, transformando-se em um excelente centro gastronômico e contando ainda com uma loja de móveis, coisa que o Rio Sul não oferece. Hoje o shopping do Botafogo na sede tem excelente movimento.

O problema é que o NorteShopping é completo demais. Deve ser feito um estudo para detectar quais são os serviços deficientes do NorteShopping para que nós possamos oferecer nesse novo shopping.

Não sei qual a viabilidade de se construir um hotel ali. Um hotel de luxo não emplacaria em território de baixa renda, e a quantidade de motéis nos arredores do Estádio é grande. Centro de Convenções também acho difícil, pois o segmento já está saturado e a Prefeitura acabou de construir um novo Centro de Convenções na Av. Presidente Vargas.

Prédios de escritórios poderiam ser uma solução, desde que adequado à realidade local, com serviços voltados para a população de baixa renda. Estacionamentos só funcionam mesmo, naquele local, em dias de jogos, não podendo ser aproveitados ao longo da semana, a não ser que esteja atrelado a esses novos empreendimentos.

Por tudo isso, a solução que eu daria, equacionado o problema do espaço, no âmbito de vista comercial, é a construção de prédio de escritórios que prestem serviços voltados para a população de baixa renda e também para empresas que precisem de mão-de-obra barata. Além disso, um prédio comercial poderia abrigar serviços que não fossem bem prestados pelo NorteShopping, dependendo de estudos para isso. Já foram abertas negociações para fazer uma quadra de escola de samba no local. A música é um segmento não explorado pelo NorteShopping. Outro serviço não prestado pelo NorteShopping é o paintball. Sem dúvida, outros serviços não são prestados lá, e é nisso que temos de nos concentrar.

Mas a melhor idéia de todas é explorar não o espaço econômico, mas o espaço esportivo. Temos as pistas de atletismo mais modernas do país. Tenho certeza que muitas universidades teriam interesse em construir m campus voltado para a educação física no Engenhão. Poderíamos construir um grande complexo esportivo, com a ajuda da iniciativa privada e da Lei Agnelo-Piva (3), e lançar escolinhas e cursos esportivos. Fazer do Engenhão a base do esporte olímpico brasileiro e ganhar dinheiro com isso, além de transformar o clube em potência olímpica. Recursos para isso, existem, principalmente através da Lei Agnelo-Piva, que hoje destina milhões de reais do orçamento da União com esse fim, mas simplesmente não existe um projeto sério onde se possa aplicar esse dinheiro. Cabe ao Botafogo apresentar esse projeto, já que administra um dos maiores complexos esportivos do país.

Botafogo – Potência Esportiva e/ou Econômica?

Explorando de maneira inteligente o espaço, e através de estudos de viabilidade econômica, tendo como premissa os problemas sócio-econômicos da localidade e a concorrência de um grande complexo comercial, o Botafogo pode sim chegar longe e explorar economicamente o Engenhão, sem se restringir às cerca de 35 datas em que se pratica futebol no estádio, embora a melhor opção, na minha opinião, é explorar o potencial esportivo do complexo, e dali conseguir um bom proveito econômico, e não insistir em potencial comercial duvidoso.

Com isso, podemos virar novamente uma grande potência esportiva E econômica, pois, bem administrado, esporte gera dinheiro e dinheiro gera esporte.

Saudações Alvinegras,
Bernardo Santoro. 25 anos, advogado, sócio-proprietário e sócio-torcedor do Botafogo de Futebol e Regatas.

(1) Cia. Botafogo é uma sociedade anônima, em que um dos sócios é o Botafogo de Futebol e Regatas, e os outros sócios são desconhecidos, e é o mecanismo pelo qual o Botafogo participa de licitações, possuindo certidão negativa de débito, ao contrário do clube Botafogo, que tem passivo tributário gigantesco.

(2) Hillsborough é o nome do estádio do clube inglês Sheffield Wednesday, que disputou com o Liverpool a semifinal da Copa da Inglaterra de 1989. Na ocasião, em virtude da superlotação do estádio, 96 torcedores do Liverpool morreram esmagados nas grades que separavam o campo da arquibancada. Após esse incidente, o Juiz Taylor elaborou um relatório sobre todos os problemas do futebol inglês, conhecido como Relatório Taylor (1990). A partir daí, todos os estádios ingleses passaram a ter cadeiras numeradas, o policiamento foi intensificado, os hooligans reprimidos, sendo alguns deles banidos dos estádios, os ingressos foram aumentados, elitizando a arquibancada, entre outras medidas que culminaram na criação da liga de clube ingleses (Premier League), transformando o futebol inglês no mais rentável do mundo.

(3) A lei Agnelo/Piva (Lei Federal no 10.264/02) é uma lei que destina 2% de todo o dinheiro arrecadado em loterias federais ao esporte olímpico brasileiro.