sábado, 6 de junho de 2009

MONTENEGRO, NÃO!

ESSE TEXTO FOI UM MANIFESTO CONTRA A CANDIDATURA DO MONTENEGRO, LANÇADA EM 2008 E QUE, FELIZMENTE, NÃO FOI VIABILIZADA.

Não apóio o retorno de Carlos Augusto Montenegro por três razões simples: (1) pelo dirigente que ele foi, (2) pelo dirigente que ele é e (3) pelo dirigente que ele pretende ser.É um texto longo, mas espero que sirva de reflexão. Por fim, teço algumas considerações próprias sobre o Botafogo que eu quero.E faço aqui um “disclaimer”: todas as idéias aqui contidas são exclusivamente minhas, não podendo ser imputadas a nenhum movimento político do clube e nem a qualquer torcida organizada.

O DIRIGENTE QUE ELE FOI

Montenegro assumiu o clube em 08/12/1993, portanto, APÓS A CONQUISTA DA COPA CONMEBOL, que muitas pessoas creditam a ele, mas que, na verdade, se deu na gestão-tampão de Mauro Ney Palmeiro.Montenegro encontrou um clube sem dinheiro, sem elenco, sem sede e sem dignidade. Mas também, frisa-se, praticamente sem dívidas, pois, segundo os jornais da época, a dívida do clube não ultrapassava meio milhão de dólares e o dólar estava em paridade com o recém criado real..Teve como grande mérito administrativo utilizar sua influência política para tombar o casarão colonial, fazendo com que o imóvel da Rua General Severiano sofresse a desvalorização necessária para que tivéssemos condições de reavê-la.O processo de reaquisição da nossa casa foi extremamente custoso. Em troca do imóvel de Gen. Severiano, demos um imóvel na praia de Botafogo onde foi erguido um grande centro empresarial, em área nobre da cidade. Esse centro é hoje ocupado, entre outras empresas, pela Vivo e vale algumas dezenas de milhões de reais.Para a reconstrução da sede, foi dada a concessão de boa parte do terreno para a construção de um shopping. O shopping, que também fica em área nobre da cidade e é um grande centro gastronômico, rende apenas 3% de seus lucros para o clube, e o tempo de duração dessa concessão é desconhecido para a maioria, onde aqui me incluo, talvez para preservar a boa imagem do “presidente campeão”.A sede, em si, não é grande atrativo para os sócios, contendo duas churrasqueiras, um sauna, piscina, um bar, um ginásio, duas quadras, uma quadra de society e um campo com as dimensões mínimas.Nesse sentido, eu trago uma experiência própria minha. Hoje sou sócio apenas do Botafogo de Futebol e Regatas, mas, outrora, fui sócio do alvinegro da serra, o Petropolitano Football Club. Até dois anos atrás, quando deixei de ser sócio do alvinegro da serra, a mensalidade custava 70 reais, e dava direito a duas sedes sociais, totalizando 3 bares, 7 quadras de tênis, 2 piscinas (uma semi-olímpica), 2 quadras poliesportivas, sauna, salão de jogos de mesa (sinuca, pingpong, etc), salão de jogos de carta, academia de ginástica, ginásio e campo de dimensões oficiais, além de intensa atividade social dentro do salão principal, com happy hour em alguns dias e festas noturnas, onde o sócio sempre pagava a metade do preço.Para quem participou das atividades de um clube com vida social, sabe o quanto isso faz falta ao Botafogo, e grande parte disso se deve à falta de estrutura da sede, embora reconheça que, antes da mesma, não havia absolutamente nada. E quem idealizou a sede como ela se encontra foi CA Montenegro, para bem ou para mal.O elenco de 1994 foi um bom elenco, que honrou as tradições do clube, e serviu de base para o elenco campeão de 1995. Sobre o campeonato de 95, a maior alegria da nossa história, duas críticas: (i) o próprio Montenegro, em diversas ocasiões, admitiu que o título de 95 foi uma felicidade, mas uma obra absoluta do acaso e (ii) o que se viu a seguir, o desmonte do time de 95, inviabilizou uma disputa digna da Libertadores de 96.O ano de 96, apesar do título municipal (sim, teve um municipal naquele ano, anterior ao estadual, em que vencemos de forma invicta, tendo o Madureira como vice), não foi bom. O Flamengo foi campeão estadual invicto e nossa participação no brasileiro, como detentores do título, foi pífia. Ao final do mandato, a dívida do clube já era superior a alguns milhões (segundo estimativas, pois o balanço foi aprovado por conta da força política e do prestígio do presidente, além dos arquivos terem misteriosamente sumido).E então vai a pergunta: como a dívida cresceu tanto sem que conseguíssemos manter nossos jogadores para 96? Faria sentido termos uma grande dívida se tivéssemos mantido Donizetti, Narciso, Sergio Manoel, Leandro Ávila, entre outros. Mas, se não mantivemos, por que ela cresceu?Caberia ainda falar algo a respeito da relação de Carlos Augusto Montenegro, como Presidente do Botafogo, e o Desembargador Federal Francisco Pizzolante, mas como esse processo ainda está em andamento, sugiro às pessoas que procurem pesquisar a respeito desse assunto.O descalabro administrativo prosseguiu com a administração Rolim, patrocinada por Montenegro. Em três anos foram um estadual (97), um rio-sp (98), um vice da Copa do Brasil (99) e mais alguns muitos milhões de dívidas, e só crescendo. Patrocínios irrisórios, sede abandonada e Caio Martins valorizado como um grande estádio.Já que falei de Caio Martins, vou me estender um pouco nesse assunto. Talvez nenhuma decisão tenha sido tão prejudicial para o Botafogo quanto a aquisição de Caio Martins. Quando passamos a mandar os jogos nesse estádio, o torcedor do Botafogo, que era o mais fiel do Rio, simplesmente foi desacostumado a freqüentar as arquibancadas. Eu já li em diversos lugares que, na tenebrosa década de 80, bastava uma vitoriazinha meia-boca contra um Bonsucesso da vida para, no dia seguinte, enchermos o Maracanã. Caio Martins foi o começo do rompimento do clube com a torcida. Um estádio com capacidade para 5.000 pessoas, sem estacionamento, para comportar uma torcida como a nossa foi uma decisão, para dizer o mínimo, infeliz. Numa entrevista para um site do Botafogo, recentemente, Montenegro defende a aquisição do Caio Martins. Novo sinal de falta de visão do ex-presidente.Voltando ao final da administração Rolim, surge como candidato Mauro Ney Palmeiro, novamente patrocinado por Montenegro. Novo descalabro administrativo: dívidas crescendo exponencialmente, falta de patrocínio, contas atrasadas, times ridículos, e, a cereja do bolo, a queda para a segunda divisão. Aqui já podíamos estimar a dívida em 200 milhões de reais.Outrossim, cabe novamente ressaltar a grande “colaboração” do então conselheiro Montenegro. Foi ele o maior defensor da aprovação das contas absurdas da administração Mauro Ney. Ah sim, os computadores e arquivos sumiram de novo, mas isso já não é novidade no “Montenegro way of administration”.Em suma: o modelo implantado por Montenegro, apoiado em jogadores de empresário e de empréstimo, sem preocupações com o balanço financeiro, com estádio precário, sem CT e baseado em um amadorismo romântico, que embora bonito, não pode mais ser aplicado no futebol moderno, foi o motivo determinante para a queda do Botafogo para a segunda divisão, e mais do que isso, para tornar pequena a mentalidade do torcedor alvinegro e afastá-lo do estádio. O clube foi abandonado pela própria torcida por causa dessa política temerária.Então vem o primeiro mandato de Bebeto de Freitas. Reconstrução do time, volta à primeira divisão, aumento do Caio Martins para 20.000 pessoas (2003), utilização da Arena Petrobrás para 30.000 pessoas (2004) e Maracanã de 100.000 pessoas (2005). A maior conquista da primeira gestão foi, sem dúvida, enxergar a verdadeira tumba que era Caio Martins. A nossa tumba. Um estádio de 5.000 pessoas não serve para o Botafogo. Até hoje, nos jogos de pouco apelo, somente 5.000 pessoas, em média, vão as jogos, muito por causa do ainda presente “efeito Caio Martins”.E Montenegro sempre na oposição...Vendo que a derrota da oposição era certa, ao fim de 2005, Montenegro se aproxima de Bebeto. Esse, querendo a unidade do clube, aceita. De fato, o clube deu mais um passo na segunda gestão, com a volta do clube ao cenário internacional, a aquisição do Engenhão, a reestruturação das dívidas, entre outras melhorias. Mas isso já é papo para a segunda parte desse artigo.

O DIRIGENTE QUE ELE É

Montenegro, nessa segunda gestão, nunca soube demonstrar a serenidade necessária para conduzir profissionalmente o departamento de futebol do Botafogo.As contratações indicadas por ele, então, foram as piores possíveis, sempre baseadas em nome, e não no desempenho recente do jogador em questão. O destaque, nesse caso, foi Athirson.Se formos analisar bem, QUASE todos os jogadores que tiveram algum destaque no Botafogo, ainda que por algum tempo, ao longo desses três anos foram indicações de diversas pessoas, menos do Montenegro: Lúcio Flávio, Diguinho, Túlio, Scheidt (Bebeto); Zé Roberto, Reinaldo (Péricles Chamusca), Joílson (PC Gusmão), Juninho (Bonamigo), Carlos Alberto (Rotemberg), Jorge Henrique e Leandro Guerreiro (Cuca).Fiz questão de destacar aquele “quase” porque um jogador indicado pelo Montenegro fez sucesso. O nome dele? DODÔ...Não tenho como comprovar isso, mas o que se fala no clube é que Dodô era muito próximo ao CAM, e sempre foi motivo de distúrbio dentro do elenco de 2007. O episódio da “Tragédia do Monumental” deixou isso claro para todos. Por fim, o escândalo do “doping” manchou a reputação da instituição Botafogo junto a organismos nacionais e internacionais. Quem inventou a desculpa da “pílula adulterada”? CAM novamente.Falando na “Tragédia do Monumental” (para quem não sabe, uma das maiores vergonhas da história do futebol do Botafogo – a fatídica derrota para o River Plate por 4x2, onde o River precisava marcar 3 gols para nos eliminar em 18 minutos com um homem a menos), muitas pessoas defendem o modo como Montenegro agiu durante o acontecido. Eu, certamente, não sou uma dessas pessoas. Todo o seu destempero fragilizou de tal forma o elenco, que até o fim do ano nunca mais foi o mesmo. A demissão do Cuca e contratação do Mário Sérgio, para posterior recontratação de Cuca foi de uma infantilidade e despreparo psicológico sem precedentes na história desse clube.Em suma, o dirigente que Montenegro se mostra hoje é alguém sem preparo psicológico, destemperado, excessivamente passional e que muda de idéia constantemente, sem manter uma linha firme de atuação, o que, em termos administrativos, é uma calamidade. Além disso, a questão da pílula adulterada ficou mal explicada. Não posso afirmar aqui que houve fabricação de provas para inocentar Dodô, mas a falta de explicação sobre a procedência da pílula analisada pela USP faz com que qualquer um possa pensar o que quiser.

O DIRIGENTE QUE ELE PRETENDE SER

Muito me incomoda ver como essa questão eleitoral foi dirigida por ele e, sem dúvida, o comportamento do Montenegro nesse período pré-eleitoral nos pode dar uma idéia de que tipo de Presidente ele pretende ser.Como é sabido, hoje são duas as principais correntes políticas que conduzem o Botafogo, dando sustentabilidade à gestão Bebeto: a corrente do Montenegro e o Movimento Carlito Rocha, embora outras pessoas, além de correntes menos organizadas também influam decisivamente no clube.Durante esse período pré-eleitoral, o que se viu, por parte do MCR, foi o pedido de conciliação política, visto através de seu site oficial, ao passo que, unilateralmente, Montenegro sempre forçou a criação de uma chapa própria, primeiro encabeçada pelo Deputado João Figueira, depois encabeçada pelo próprio Montenegro.Essa atitude, embora reconheça que seja absolutamente legítima, se deu em um momento muito infeliz, pois fazemos hoje uma grande campanha, que pode culminar com uma volta à tão sonhada Libertadores, além de conquistarmos a inédita (em termos de clubes brasileiros) Copa Sul-Americana. A conquista de uma vaga para a Libertadores e o título da Copa nos estabeleceria definitivamente como um dos maiores clubes brasileiros, concluindo brilhantemente o trabalho de resgate da grandeza do nosso clube. O anúncio unilateral dessa chapa criou uma cisão na diretoria, e fragilizou politicamente o nosso clube junto a outras agremiações, além de conturbar administrativamente a instituição.Essa atitude, combinada com outras praticadas atualmente por Montenegro, me faz vislumbrar um mandato conturbado, onde o presidente Montenegro será extremamente autoritário, aplicando políticas amadoras, populistas (junto a torcidas organizadas), cercado de empresários e sem nenhuma responsabilidade fiscal. Bem ao estilo de Eurico Miranda, que acabou de sair da presidência do Vasco da Gama, deixando o clube na penúria, com um time patético e bem próximo da segunda divisão.A insistência de Montenegro em ter como vice o Deputado João Pedro Figueira também é digno de nota, pois o deputado se encontra envolvido em diversas investigações de malversação de dinheiro público dentro da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.E é por isso que eu temo pela gestão Montenegro e, principalmente, pelo futuro do Botafogo.

O FUTURO DO BOTAFOGO – UMA VISÃO PARTICULAR

Sempre entendi que a pura crítica não é suficiente, sem que se traga, no seu bojo, um projeto para resolver as deficiências apontadas. Trago aqui, então, uma visão do que eu gostaria que fosse implementado no clube pelo próximo presidente, seja ele Montenegro ou qualquer outro botafoguense.

O FUTEBOL DO BOTAFOGO – MODELO EMPRESARIAL

Já foram implementadas as bases desse Botafogo moderno no campo do futebol. A Companhia Botafogo já é a gestora do Engenhão, que é um estádio moderno com excelente capacidade. Esse fato já é meio caminho andado para a total modernização do clube.Mas a Companhia Botafogo hoje vive num certo obscurantismo, pois uma sociedade anônima, no Brasil, requer pelo menos dois sócios. Se o clube Botafogo é um dos sócios, quem é(são) o(s) outro(s)? Essa é uma pergunta que deve ser respondida.Em um modelo moderno de gestão, a Cia. Botafogo deverá ter 50% de suas ações vendidas a um grupo econômico que pretenda investir no futebol, ficando os outros 50% com o clube Botafogo. A venda dessas ações e esse investidor seriam as bases financeiras para todas as propostas abaixo elencadas.Essa empresa administraria modernamente o Estádio, captando patrocinadores e explorando o estádio para diversos outros fins, além do futebol.Nesse diapasão, deve se destacar o problema dos galpões do Engenhão. Antes da licitação que deu ao Botafogo a gestão do Estádio, os galpões foram cedidos ao COB para que lá fosse feito um projeto olímpico. Criou-se então o impasse: sem o estádio (que é nosso), o COB não tem como explorar os galpões, e sem os galpões o Botafogo não tem como explorar na sua totalidade o estádio, pois a partir desses galpões que se construiriam escritórios, estacionamento, universidade, centro gastronômico, entre outros projetos já em curso. COB e Botafogo precisam chegar a um denominador comum, de modo a que ambos lucrem e que as instalações de atletismo não fiquem subutilizadas.O Marketing do clube também deverá ser gerido pela Cia. Botafogo, com maior utilização do mascote Biriba, criação da TV Botafogo, melhora urgente do site do clube, e opções mais baratas para os uniformes oficiais. Um exemplo claro se tem da NFL (futebol americano). Uma camisa oficial de um time da NFL custa em torno de 550 reais, mas os fãs menos abastados compram réplicas oficiais com excelente qualidade e feita pela empresa que faz as camisas oficiais por cerca de 160 reais. Por que não lançar réplicas das camisas oficiais, com material bom, por 30 ou 40 reais, combatendo, assim, a pirataria? O marketing do Botafogo é muito amador.A Cia. Botafogo também geraria a base do clube, com a construção do projeto já feito de CT em Marechal Hermes, com vários campos, concentração e convênios com escolas, para que nossos futuros craques exercitem a mente e o corpo.O futebol profissional do clube se transferiria para Caio Martins, implementando-se o também já pronto projeto de revitalização do complexo, com três campos de futebol, hotel e academia.

O CLUBE BOTAFOGO

Com isso, o clube poderia finalmente valorizar o seu sócio, através de uma revitalização do clube. Com a gestão profissional e a saída do futebol de General Severiano, o campo seria utilizado para a construção de novas quadras poliesportivas, quadras de tênis, salões de jogos e academia, dando vida social ao clube, aumentando a participação do sócio no dia a dia do clube, aumentando o número de sócios e até aumentando as receitas com isso. O grande culpado do pequeno número de sócios do clube e a falta de infra-estrutura do mesmo.A conseqüência natural seria o fortalecimento do esporte amador. Se em épocas distantes o sócio ia ao clube para ver nosso time de futebol treinar, no futuro o sócio chegaria no clube, se exercitaria, cairia na piscina, jantaria e depois veria algum time nosso, como o de vôlei, ou basquete, treinando ou atuando honradamente em ligas estaduais e nacionais, elevando o nome do Botafogo.

CONCLUSÃO

Mais importante que os nomes, são as idéias. No momento em que um candidato, seja ele quem fosse, apresentasse essas idéias modernas para o clube, eu seria o primeiro a apoiar, ainda que tivesse algumas restrições de ordem pessoal.O que não se pode apoiar é uma volta a um modelo arcaico de administração, que levou o Botafogo a uma dívida de 200 milhões e à segunda divisão.Portanto eu vou terminar esse artigo aperfeiçoando o título. Melhor que “Montenegro não” seria “Idéias do Montenegro não – por um Botafogo profissional”.

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